quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

2015/2 - Nunca vai embora, de Chico Mattoso

O calor de Brasília nos últimos dias (ontem, às 8h da manhã, os termômetros já marcavam 29ºC) certamente não é comparável à cidade de Havana, em Cuba, mas me ajudou a compreender boa parte da narração de Nunca vai embora, de Chico Mattoso.

O livro é pequeno e tem uma linguagem simples, que torna a leitura fácil e rápida. Nunca vai Embora é o sexto livro lançado pela coleção Amores Expressos, da Companhia das Letras, um projeto muito interessante que um amigo me apresentou: nele, 17 escritores foram convidados a passar um tempo em 17 cidades do mundo, com o propósito de criar um romance que tivesse o local como cenário, e retratasse o amor em suas diversas formas (saiba mais aqui). E a cidade eleita para Chico Mattoso foi a capital cubana.

O livro é uma narrativa sob o olhar de Renato, dentista que levava uma vida sem grandes curvas até conhecer Camila, uma jovem estudante de cinema que, com personalidade inquieta e uma forma particular de perceber o mundo, provocou uma turbulência no pacato cotidiano do dentista e, tempos depois, o convenceu a acompanhá-la por uns tempos em Cuba para que ela filmasse um documentário.

O caminho óbvio para Renato era conhecer a Havana turística, que aparece nos guias, conhecida nos livros. Mas este era justamente o objetivo contrário de Camila. Isso leva o casal e ter dias separados - ela filmando, ele fazendo seu roteiro clichê -, encontrando-se apenas pela noite para beber. Os desencontros de ambos levam a uma briga, que dá introdução à parte mais interessante da trama, quando Renato se vê obrigado a conhecer Havana por suas ruelas, prestar atenção em seus moradores e se enfiar em cada canto da cidade em busca da namorada, ou do motivo que o faz querer encontrá-la. Ele tem que conhecer o cotidiano da cidade em sua forma mais simples e, com isso, acabar conhecendo mais do que imaginara saber sobre o seu relacionamento, o amor (ou seria obsessão?) e, mais importante, sobre si.

As descrições de Nunca vai embora são bem desenhadas: muitas vezes é possível ter uma visão realista dos lugares, características dos personagens e situações que o autor está falando. A narrativa é dinâmica e instiga a querer saber o desfecho, no entanto a sensação pós-leitura não é aquela de nostalgia que eu gosto de sentir pelos livros recém lidos. Mesmo buscando uma Havana diferente, há alguns trechos caricatos no relato de personagens e situações; e a história se perde um pouco no desfecho: acredito que com algumas páginas a mais, diversos pontos poderiam ser melhor costurados. Mas de qualquer forma, é um livro que eu recomendo, tanto para "conhecer" Havana, quanto para tomar para si a reflexão que a história do dentista provoca.

Você pode ver um trailer do livro aqui.

*Este é o segundo livro que leio no ano, e vou tentar - eu disse tentar - entrar na brincadeira do Desafio Literário com o blog Não era amor, era cilada. O primeiro, Fim, da Fernanda Torres, foi o "Que o título tenha apenas uma palavra", e Nunca vai embora é o "Que se passe num lugar que você sempre quis visitar". Você pode saber mais sobre o desafio clicando aqui. :)

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